(caio
silveira ramos)
Talvez seja
muito cedo. Ainda muito cedo. Eu não a conheço, mas preciso falar sobre
ela. Helloysa, Eloísa, Heloísa, Helô:
ela.
Mas ainda é
muito cedo: Heloísa só tem dois anos.
Mas Heloísa já tem dois anos e daqui a pouco será
moça, morará sozinha, viajará até Paris, passeará em Lisboa. Eu preciso falar sobre ela agora. Antes que
ela ganhe o mundo.
Chegou assim,
com dois anos e muitas histórias.
Falando pelos cotovelos, balançando os cachinhos, revirando a vida dos
compadres e de três gatos abismados.
Chegou com três DVDs de suas músicas e seus filmes preferidos. Ainda não a conheço, mas já vou avisando: não
sou fã do “Patati Patatá” e cismo com a canção da bolacha de água e sal do
“Palavra Cantada”. Mas gosto da “Peppa
Pig” e das músicas do Cocoricó. Vou cantar para ela “Nos dias quentes de verão”
e “Chuva, chuvisco, chuvarada”: vamos comer bolo de cenoura com cobertura de
chocolate quente e banana saída do forno com açúcar e canela: que a bolacha de
água e sal sirva apenas quando tivermos dor de barriga.
Ainda não a
conheço. Ou só a conheço pelas fotos. Então vamos falar sobre as fotos na ordem
que chegaram para mim. Do jeito que Heloísa chegou. Histórias:
Foto 1: É ela! E
é linda. Está frio no parque e Heloísa usa um conjunto vermelho. Ela parece muito feliz e divide o balanço com
uma boneca. Ao fundo, o compadre observa a alegria e segura uma sacola de
plástico com a mão esquerda. Não dá para ver o que tem na sacola.
Foto 2: Heloísa ainda está no balanço com a boneca.
Meigamente pende a cabecinha para o lado direito e mostra um sorriso doce. Ao
fundo, o compadre observa a doçura e ainda segura a sacola de plástico com a
mão esquerda. A sacola tem o logotipo de uma farmácia. Parece que tem um pacote
de fraldas dentro. Ou talvez um babador para o compadre.
Foto 3: Heloísa está no carro, na cadeirinha nova e vermelha.
Parece compenetrada. Ao seu lado, sentado no banco, um cachorrinho de pelúcia
com focinho igual ao do Mickey.
Foto 4: Heloísa
continua no carro, na cadeirinha nova e vermelha. Ao seu lado, permanece o
cachorrinho de pelúcia com focinho igual ao do Mickey. Ela sorri. E seu sorriso
é ainda mais doce.
Foto 5: Na
cozinha da casa nova, Heloísa – com classe e fineza - usa uma colher grande
para apanhar as rodelas de banana num prato quadrado de louça. Na mão esquerda
ela segura uma chupeta. Calça meias listadas,
que combinam até com a toalhinha da mesa. Ao fundo, na área de serviço, os pés
do compadre estão metidos em um par de chinelos confortáveis.
Foto 6: Heloísa
já apanhou – com classe, fineza e o apoio da mãozinha que segura a chupeta – a
rodela de banana com a colher, e prepara a boquinha (ou o bocão?) para devorar
a fruta. Ao fundo não se vê mais os pés do compadre. Deve estar na sala com um
livro na mão.
Foto 7: De
costas para TV, Heloísa olha para câmera com a chupeta no canto da boca. Deve
ter se cansado do “Patati Patatá”.
Foto 8: Ao
fundo, estirados sobre o sofá comprido, os pés do compadre (com meias) e os pés
da comadre (sem meias). Em primeiro plano, usando uma chupeta em forma de
borboleta, Heloísa. Com um sorriso irresistível nos lábios e nos olhos.
Foto 9: Em
frente ao piano, de chupeta nova e cachinhos soltos, Heloísa desfila com a mão
esquerda na cintura. De blusa amarela e calça vermelha (acho), usa os chinelos
de bolinhas da comadre.
Foto 10:
Balançando os braços e ainda usando o mesmo modelito – inclusive os chinelos de
bolinha da comadre – Heloísa desfila pela sala, desviando dos brinquedos dos
gatos. Os gatos não aparecem na foto.
Foto 11:
Segurando um aparelho celular na mão direita (acho que ouve música), de camisa
vermelha e calça azul, ela se prepara para escovar os dentes.
Foto 12: Ainda
com o celular na mão esquerda (deve estar realmente ouvindo música), ela
segura, com a outra mão e o canto da boca, uma escovinha de dentes de cabo
amarelo e vermelho (deve realmente gostar de vermelho) e vira charmosamente o
pezinho esquerdo para dentro. Acho que ela está dançando.
Ainda não a
conheço: continuo só com suas fotos, mas preciso, preciso falar sobre ela
agora. Antes que ela ganhe o mundo.
Não. Já é tarde.
O mundo já é
dela. Todo dela.
Publicado no Jornal de Piracicaba em 27/9/2015
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