(caio silveira ramos)
Dia 11 de janeiro seria aniversário da minha irmã Ruth. Não vou, neste Mirante, contar que ela, docemente, me acarinhava desde
pequeno. Nem vou dizer que, quando me
buscava na escola, me pagava uma coxinha de frango com guaraná caçulinha. Também não vou escrever que ela dava aulas de
violão e com o pagamento me comprava presentes e gostosuras. Nem que, nas manhãs de sábado, se deitava na
minha cama (ou eu na dela) e ríamos das deliciosas bobagens que inventávamos
contando ou cantando. Poderia contar que
ela me deu seu primeiro filho para batizar, meu querido Renato. Agora não. Essas histórias ficam para depois.
Agora quero apenas lembrar que ela – que redigiu um texto tão
comovente sobre nosso pai e tantas vezes escreveu sobre sua especialidade, a
odontopediatria –, em seu último texto para o Jornal de Piracicaba, discorreu
sobre a força da vida e sobre a alegria de sentir sua mão aninhada por mãos
quentes. Em seu derradeiro Natal, ela me
estendeu os braços e eu entendi o seu recado. Minha irmã me sorriu, agradecendo
minhas mãos, que nem deviam estar tão quentes assim, pois o medo do futuro nos
congela até os ossos.
Agora quero apenas contar que sua filha Paula, senhora das mil
palavras (que por ela fluem e ganham o espaço com liberdade e alegria), se
achegou do lado de cá deste Mirante: Paula veio estudar em São Paulo.
Paula, que, ainda menina, enfrentou valente e altiva uma das noites
mais frias de um mês de maio memorável, e me trouxe, entre suas mãos quentes,
as alianças do meu casamento, agora chega mais perto dos meus olhos. Chega, não para que eu possa lhe estender as
mãos, mas para dar as suas, e aquecer mais que a minha saudade. Ela vem para aquecer a minha alma.
E de mãos dadas, lançaremos pelo céu da fria cidade cinza, o calor
azul de um sorriso inesquecível que nos aquece.
E que nos manterá aquecidos por toda vida.
Ilustração: Erasmo Spadotto - cedida pelo Jornal de Piracicaba
Publicado no Jornal de Piracicaba em 11/1/2013
Obrigado.
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