(caio silveira
ramos)
João Borba
lançou, em 2012, seu CD “Eu comigo e meus amigos“. João Borba recebeu uma crítica
profundamente elogiosa ao seu CD no jornal O Estado de S. Paulo. João Borba é hoje uma lenda viva da Velha
Guarda do Samba Paulista. João Borba é
um dos maiores nomes do samba. João
Borba é piracicabano. Mas Piracicaba pouco
conhece João Borba.
Eu também não
conheci João Borba em nossa cidade: fui encontrá-lo na Capital, nos corredores
do prédio do nosso trabalho. Mas só fui
conhecê-lo mesmo quando o expediente terminou e nos esbarramos numa roda de
samba: ele com sua voz soberana e eu com o meu cavaquinho mambembe. E foi só João Borba cantar um primeiro
samba para eu sentir que encontrara um amigo querido e eterno. Pedi timidamente que entoasse “Linda
Borboleta”, de Paulo da Portela e Monarco, e ele abriu o sorriso e a voz como um
abraço fraterno e infinito: “Linda borboleta/ não seja buliçosa/ deixa minha
rosa que tão linda está no galho/ é o meu prazer ao amanhecer/ fazer-lhe
visita, vê-la banhada de orvalho/ quando vem o sol/ cobre ela de ouro: no
jardim do pobre é um tesouro”. E nos
tornamos irmãos para sempre.
Em seu CD, eu
sou um dos seus honrados amigos: nossa parceria “Água Cristalina” está lá
lindamente vestida por sua voz, que baila com a de Dona Inah, outro mito do
samba paulista tardiamente descoberto pela crítica. Com a suavidade que evoca os duetos de
Cascatinha e Inhana, Borba e Dona Inah entoam com sentimento o nosso samba-rural
que fala de um rio que teima em existir dentro da alma. O rio de nossos avós
que ainda queremos tomar pelos olhos e pela boca.
Nas outras
faixas, Borba, com a sabedoria de seus quase oitenta anos, exala sua música com
a maestria da sua voz e de seu talento para nos fazer respirar o samba e a
vida. E “Emossamba” e “Carente”, só
para citar dois clássicos da noite paulistana criados por ele, agora encontram
seus registros definitivos e passam a correr tranquilamente por nossas veias.
Vejo agora uma
foto de meu filho diante de João Borba – aliás, um dos Joões que inspirou o
nome do pequenino: no colo negro e majestático daquele grande e fraterno amigo,
meu menino parece conversar seriamente sobre a vida.
Mas olhando
bem de perto, descubro que a conversa é outra: de dentro da foto, uma melodia
doce parece escorrer pela sala e ganhar a rua.
De leve, ouço um tamborim sincopando o asfalto.
E dessa nova
parceria nascerá um samba eterno.
Ilustração: Erasmo Spadotto - cedida pelo Jornal de Piracicaba
Publicado no Jornal de Piracicaba em 6/12/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário
INFINITE-SE: