(caio silveira
ramos)
Ele chegou a São Paulo por volta de 1968 (mas não se sabe se já
era corintiano). Depois de uma dor de dente, sua simpatia e
sua humildade franciscana foram acolhidas pela família de um generoso dentista.
Mas ele, sempre pensando em desincomodar, agradecido, foi continuar seu
caminho. Os cavaleiros andantes precisam continuar seus caminhos para aplacar
as dores do mundo.
Rozalvo Alves dos Santos veio de Cordeiros, centro-sul do Estado
da Bahia, divisa com São João do Paraíso (MG). Cordeiros, que foi um povoado de
Condeúba. Cordeiros, que se chamou Candeal. Que se chamou Mandacaru. Cordeiros,
da antiga capela do Senhor Bom Jesus da Boa Vida. Mas se a
vida é sempre boa, andava difícil pelos roçados de Cordeiros em
1968. E, com as bênçãos de sua mainha, um daqueles (Alves dos)
Santos teve que partir aos 23 anos. Sem armadura, de peito aberto (mas com seu
cinturão de madeira), foi ganhar o mundo. Ou o mundo ganhar um cavaleiro.
E ele foi (sempre destemido) compartilhar sua alegria, sua fé,
sua boa-vontade e seu sorriso com os desvalidos do mundo. Para sobreviver foi
ambulante, gerente de loja de departamentos, vendedor de geladinho,
representante de loja de tecidos, caseiro. Para sobreviver, comprou um
carro e um “trailer” e se tornou uma das figuras mais amadas no bairro Unileste
vendendo doces e refrescos. Isso para sobreviver. Porque, para viver, ele
apenas precisa de sua fé e da alegria alheia provocada por sua generosidade e
seu desapego.
Tempos atrás ele acordava de madrugada para correr – chegou até
a participar de algumas competições –, mas hoje, a partir das quatro horas da
manhã, ele prefere deixar voar o pensamento pelos que precisam de suas orações.
Uma hora depois, o cavaleiro começa a se preparar para as atividades do dia: toma
seu banho frio (aprendeu que isso ajuda a combater doenças respiratórias, mas
há um quê de sacrifício redentor nesse ato), depois prepara seu café (se não
for dia de jejum ofertado para acabar com os jejuns involuntários alheios), e
por fim sai para o trabalho, não sem antes socorrer esse ou aquele amigo
necessitado. À noite, vai à missa e, discreto e gentil como sempre – e como um
cavaleiro andante deve ser –, confere se algum conhecido precisa de sua ajuda.
Nos feriados e finais de semana, ele viaja para visitar seus
milhares de amigos espalhados pelo mundo, que requisitam sua presença por
quererem bem, por saudade ou por um abraço. E o pequenino e magro
Rozalvo de repente se transforma no gigante Cavaleiro da Rosa Branca, não para
lutar contra moinhos de vento, mas para tecer vias sacras e temporais com seu
acolhimento. Para combater o bom combate.
E assim o cavaleiro andante segue seu caminho, de Bom Jesus da
Boa Vida a Bom Jesus do Monte, tendo como escudeiro apenas seu coração.
Coração imenso moldado de simplicidade e fé.
Ilustração:
Erasmo Spadotto – cedida pelo Jornal de Piracicaba
Publicado no
Jornal de Piracicaba em 13/12/2013
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